sexta-feira, 15 de julho de 2011

HISTÓRIA DA REFORMA PROTESTANTE - JOÃO CALVINO

Em 1529, pouco antes de atingir os 20 anos de idade, a vida de Calvino sofreu uma súbita viragem. Tendo vindo inicialmente  para Paris com uma renda anual concedida pela  Igreja, com o fim de estudar teologia, ficará a saber que o pai mudou de planos em relação ao seu futuro e quer que ele siga Direito. A " Ciência das leis torna normalmente  ricos aqueles que se debatem com ela", referia a seu pai (ele próprio advogado do bispado), segundo as próprias palavras de Calvino. Cumpriu a vontade do pai e foi estudar Direito em Orleães, mas nunca deixou de preferir a teologia. Como disse mais tarde: "Se Deus me deu forças para que eu cumprisse a vontade de meu pai, determinou pela provoência oculta que eu tomasse um outro caminho" ( oda teologia). Inicialmente Calvino preparava-se para ser padre, enveredaria pelo estudo de direito, mas Deus trouxe-o de novo ao caminho da teologia.
O biógrafo francês de Calvino, Bernard Cottret, escreve: "Direito e leis: Calvino, o teólogo, é no fim também, Calvino, o jurista. O seu pensamento fica marcado pela austeridade, a adstringência e a geometria da lei pelo seu fascínio ou aspiração a ela. No início do século XVI assiste-se o Direito a uma verdadeira revolução. A retórica de Cícero toma a primazia sobre a filosofia medieval, que se sustenta nos seus silogismos. Com a interpretação de textos jurídicos, Calvino toma contacto pela primeira vez com a Filosofia humanista". O humanismo e o renascimento são, pois, os movimentos culturais que vão influenciar em primeiro lugar.
Em Orleãs, Calvino foi influenciado pelo seu professor Pierrede l'Estoile. Em 1529, dirige-se também a Bourges, para assistir a aulas do famoso professor de direito italiano Andrea Alciati, onde também assiste a aulas do alemão Gräzizt.
Wolmar, que o entusiasmou pela literatura grega da antiguidade. Em 1529, Louis de Berquin, foi  queimado vivo em Paris, numa altura em que o rei, Francisco, estava fora da cidade.
Em 1531, Calvino, num prefácio ao um livro de um amigo, toma partido pelo seu professor Pierre de l'Estoile num texto que explora a disputa entre este e Andrea Alciati, talvez por lealdade e nacionalismo. O que prova que Calvino de 1531 ainda não é um reformador mas, acima de tudo, um humanista. Neste mesmo ano morre o pai, Gerard Calvin. Calvin vai a Bourges, a Orleãs e regressa de novo a Paris, onde se instala em Chaillot.
O humanista Erasmo de Roterdão, também se interessou pela obra de SénecaEm 1532,  foi doutorado em direito em Orleães. O seu primeiro trabalho publicado foi um comentário sobre o texto do filósofo romano Séneca "De Clementia". Calvino cobre os custos da publicação do livro com o dinheiro do seu próprio bolso. aos 23 anos era já um famoso humanista, seguindo os passos  de Erasmo de Roterdão, que também escreveu sobre Séneca nestes anos. Em "De Clementia" não há da parte de Calvino uma ilusão explicidamente religiosa. É antes uma obra que reflete o estoicismo de Séneca e a predestinação no sentido estóico. Séneca escrevera o texto como forma de apelar Nero à moderação e à razão.
Até 1532 não há, como se viu, qualquer indício de que Calvino tenha aderido à nova fé, nos seus diferentes focos e graus que surgem pela Europa, onde o luteranismo surge como um movimento mais moderado e os anabaptistas como uma força mais radical.
A conversão de Calvino ao protestantismo permanece envolta em mistério. Sabe-se apenas que ela se deu entre 1532 e 1533. Um texto escrito por Calvinoem 1557 como prefácio ao seu comentário sobre os salmos oferece-nos alguns parcos pormenores: " Após tomar conhecimento da verdadeira fé e de lhe ter tomado o gosto, apossou-se de mim um tal zelo e vontade de avançar mais profundamente,de tal modo que apesar de eu não ter precendido dos outros estudos, passei-me ocupar-me menos com eles. Fiquei estupefado quando antes mesmo do fim do ano, todos aqueles que desejavam conhecer a verdadeira fé me procuravam  e queria aprender comigo, eu, que ainda estava no início! Pela minha parte, por natureza algo tímido, sempre preferi sossego e permanecer discreto, de modo que comecei a procurar um pequeno refúgio que me permitisse recolher dos Homens. Mas, pelo contrário, todos os meus refúgios se tornavam em escolas públicas. Em resumo, apesar de eu  sempre ter pretendido viver incógnito, Deus guiou-me por tais caminhos, onde não encontrei sossego, até que ele me puxou para a luz forte, contrariando o meu caráter, e como se costuma dizer, me colocou em jogo. E, na verdade, deixei a França e dirigi-me para a Alemanha para que ali pudesse viver em um local desconhecido, incógnito, como sempre tinha desejado".
Note-se que a França e Alemanha não existiam no sentido de hoje mas sim em termos de zonas de língua francófona ou alemã. Entretento, o papa Clemente VII pressionava o rei da França a reprimir os protestantes franceses. Em bulas de 30 de Agosto  de 1533 e de 10 de novembro do mesmo ano, o papa exortava à " aniquilação da heresia Luterana e de outras seitas que ganham influência neste reino". Os dois encontram-se, então, nesse mesmo ano, em Marselha, onde discutem entre outras coisas a "guerra contra os turcos, lá fora, e a repressão das heresias cá dentro".

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